segunda-feira, 3 de setembro de 2007

A anulação do leilão da Vale do Rio Doce

Movimentos sociais - entre eles a CNBB, o MST, a CUT e a UNE - convocam a população brasileira a opinar, entre os dias 1 e 7 de setembro, a respeito da anulação do leilão de privatização da mineradora Vale do Rio Doce. Privatizada em um processo escuso e com um histórico de críticas e denúncias de falcatruas, a empresa que valia em 1997 aproximadamente 100 bilhões de dólares foi leiloada por irrisórios 3 bilhões. O Supremo Tribunal Federal - que se tornou exemplo nacional depois de fazer simplesmente o seu trabalho: acusar os 40 mensaleiros a um processo de investigação - tarda a averiguar mais de 69 ações judiciais a favor da anulação do leilão que tramitam no órgão há mais de 3 anos. O que os movimentos populares nacionais pretendem fazer é justiça com as próprias mãos, enquanto os tribunais brasileiros mantêm os processos de investigação sob as mofadas casacas dos baicharéis, esperando pela rotineira prescrição.

A Vale é hoje a maior empresa privada brasileira e a segunda maior empresa atuante no Brasil, depois da Petrobrás. Ela detém a maior frota de transportadores de grãos do mundo e é a maior captadora de minério de ferro do globo. Não há grupo empresarial que mais usufrua das riquezas minerais brasileiras que a mineradora. Ou seja, perdemos uma empresa de valor inestimável ao país e que permite com que multinacionais - que a compraram por um preço de pechincha - lucrem com a exportação de recursos nacionais.

O processo de privatização da Vale causou polêmicas logo no anúncio de que a empresa seria leiloada, em 1995. O governo de Fernando Henrique Cardoso, embalado pela onda do neoliberalismo latino-americano, alegou a insustentabilidade da empresa aos cofres públicos brasileiros e propôs a sua venda em um leilão. O dinheiro obtido seria destinado ao pagamento de dívidas nacionais e internacionais, obtendo maior credibilidade estrangeira e, consequentemente, atraindo mais investimentos ao país. Eu não culpo Fernando Henrique pela venda. O neoliberalismo foi um espírito econômico de época, o qual ludibriou as nações subdesenvolvidas - crentes de que as intenções do Consenso de Washington eram as mais inocentes possíveis. O propósito de FHC, de atrair investimentos internacionais, foi o mesmo princípio político usado pelo presidente Lula em sua economia de "commodities".

A esquerda nacional se torna pedante e cega ao criticar a política ecônomica de FHC, repetida pelo presidente Lula. Entretanto, algumas avaliações negativas do leilão - feitas pela mesma esquerda nacional - são corretas e muito pertinentes. Ao avaliar o valor de mercado da Vale do Rio Doce, para lançar um preço de venda aos interessados em comprá-la no leilão de 1997, o edital do banco Bradesco e a consultoria estadunidense Merrill Lynch sugeriram um valor de 3,3 bilhões de reais. No entanto, segundo outras consultorias nacionais, esse valor seria o triplo do sugerido. O interessante é que a empresa que comprou a Vale foi a mesma que avaliou o seu valor de mercado, ou seja, o próprio Bradesco.

O plebiscito é uma prática saudável da democracia brasileira e deve, portanto, ser estimulado. Contudo, afirmar de maneira presunsosa que a Vale se tornará maior do que é hoje nas mãos estatais é um sonho utópico-comunista. Sem concorrência ativa no mercado capitalista, com a injeção maciça de investimentos privados, a Vale é uma forte concorrente a se tornar sucateada como muitas das empresas estatais da história nacional. Caso, no entanto, a sua administração seja uma mistura entre capital privado e estatal - onde o estado seja o sócio majoritário de suas ações, como é o modelo administrativo da Petrobrás -, é possível que ela se torne tão excelente ou até melhor do que é hoje. Isso só depende de eficiência governamental e vontade de que tudo dê certo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá, sou do JO- D
Não sei, é muito fácil vender quando a empresa está quase quebrando e depois, quando ela se reergue devido ao capital privado, tomá-la de volta. Eu até acho o plebiscito positivo, mas a realidade do Brasil é outra, e as consequencias de uma possivel reestatização com certeza não seriam boas para os investimentos internacionais e a entrada de capital estrangeiro.

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