sexta-feira, 27 de abril de 2007

Pensamento mítico e pensamento lógico

Para relembrar a aula sobre "mitos"...

A tradição filosófica, sobretudo a partir do século XVIII (com a Filosofia da Ilustração) e do século XIX (com a Filosofia da história de Hegel e o positivismo de Augusto Comte), afirmava que do mito à lógica havia uma evolução do espírito humano, isso é, o mito era uma fase ou etapa do espírito humano e da civilização que antecedia o advento da lógica ou do pensamento lógico, considerado a etapa posterior e evoluída do pensamento e da civilização. Essa tradição filosófica faz crer que o mito pertenceria a culturas “inferiores”, “primitivas” ou “atrasadas”, enquanto o pensamento lógico ou racional pertenceria a culturas “superiores”, “civilizadas” e “adiantadas”.
Essa separação temporal e evolutiva de duas modalidades de pensamento fazia com que se julgasse a presença, em nossas sociedades, de explicações míticas (isto é, as religiões, a literatura, as artes) como uma espécie de “resíduo” ou “resto” de uma fase passada da evolução da humanidade, destinada a desaparecer com a plena evolução da racionalidade científica e filosófica.
Hoje, porém, sabe-se que a concepção evolutiva está equivocada e que o pensamento conceitual e o pensamento mítico podem coexistir numa mesma sociedade. Estudos de antropologia social, que estuda os mitos das sociedades ditas selvagens e também as mitologias de nossas sociedades, ditas civilizadas, mostraram que, no caso de nossas sociedades, a presença simultânea do pensamento conceitual e do pensamento mítico decorre do modo como a imaginação social transforma em mito aquilo que o pensamento conceitual elabora nas ciências e na Filosofia. Basta ver o caráter mágico-maravilhoso dado aos satélites, aos autômatos, aos computadores para constatarmos a passagem da ciência ao mito.
No entanto, estudos de neurologia e da análise da anatomia e da fisiologia do cérebro humano mostram que esse órgão possui duas partes, ou dois hemisférios; em um deles localiza-se a linguagem e o pensamento simbólicos e afetivos (propensos ao maravilhoso e à imaginação criadora) e, no outro, a linguagem e o pensamento conceituais. Certas pessoas, como os artistas, desenvolvem mais o hemisfério simbólico e afetivo, enquanto outras, como os cientistas, desenvolvem mais o hemisfério conceitual e lógico.
Assim, a predominância de uma ou de outra forma de pensamento depende, de um lado, das tendências pessoais e da história de vida dos indivíduos e, de outro, do modo como uma sociedade ou uma cultura recorrem mais a uma do que à outra forma para interpretar a realidade, intervir e explicar-se a si mesma.

Marilena Chaui

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Filosofia para o povo ler


Um dos mais polêmicos pensadores da França, Luc Ferry, apresenta o essencial da filosofia em linguagem acessível para leigos em seu livro "Aprender a Viver", mostrando como a sabedoria pode ser o caminho para uma vida melhor.
Aprender a viver é voltado para dois públicos: adultos que querem entender a filosofia, mas que não necessariamente pretendem se tornar experts no assunto; e jovens que desejam estudá-la a fundo, e procuram um bom embasamento.
Apesar de ser uma iniciação à filosofia, este livro de Ferry não abre mão da riqueza e da profundidade das idéias filosóficas, oferecendo muito mais que uma leitura superficial de textos fundamentais para o entendimento do mundo como pré-requisito para uma vida melhor.
Diz o autor: “Há na filosofia elementos para vencermos os medos que paralisam a vida, e é um erro acreditar que a psicologia poderia, nos dias de hoje, substituí-la. Aprender a viver, aprender a não mais temer em vão as diferentes faces da morte, ou, simples-mente, a superar a banalidade da vida cotidiana, o tédio, o tempo que passa, já era o principal objetivo das escolas da Antigüidade grega”.
Além de apresentar de forma acessível a história da filosofia, da Grécia antiga à filosofia contemporânea pós-Heidegger, Aprender a Viver também a coloca em contraponto à religião, tese com a qual Ferry costuma provocar grandes polêmicas. “Através da filosofia o homem pode compreender melhor a vida e o mundo e suprimir sua necessidade de busca de respostas em Deus. Filosofar é preferir a lucidez ao confronto, a liberdade à fé”, explica.

CIDADE DO MÉXICO - ABORTO

Fonte: BBCBrasil.com

Cidade do México aprova legalização do aborto

Votação de lei provocou manifestações pró e contra o aborto
Depois de mais de sete horas de discussão, a Assembléia Legislativa da Cidade do México aprovou nesta terça-feira a legalização do aborto na capital mexicana.
A nova legislação vai permitir a interrupção da gravidez até a 12ª semana de gestação, mas vale apenas para a Cidade do México.

Até agora, a lei somente permitia abortos em caso de estupro, quando a vida da mãe corria risco ou quando havia sinais de graves malformações no feto.

O polêmico projeto de lei recebeu 46 votos favoráveis e 19 contrários.

Durante a votação, a polícia teve de aumentar a segurança em torno do prédio da assembléia, onde grupos de manifestantes pró e contra o aborto se reuniram.

Opositores do aborto já avisaram que irão contestar a lei na Justiça.

O projeto provocou muito debate e enfrentou grande pressão da Igreja Católica. A Arquidiocese da Cidade do México chegou a ameaçar excomungar os legisladores da capital que votassem a favor da legalização do aborto.

Na semana passada, a Igreja local divulgou uma carta do papa Bento 16 pedindo aos bispos mexicanos para lutar contra a legalização do aborto.

O Vaticano expressou sua preocupação com a mudança na lei.

O México é o segundo maior país católico do mundo, atrás apenas do Brasil. Cerca de 90% dos mexicanos são católicos.

Antes da votação, pesquisas de opinião mostravam que a sociedade mexicana estava dividida sobre o tema.

Entre os argumentos em defesa da lei, os autores do projeto afirmam que pelo menos 1,5 mil mulheres morreram no México na última década em conseqüência de abortos ilegais, feitos em clínicas clandestinas e sem condições mínimas de higiene.

Em um relatório divulgado no ano passado, a organização internacional Human Rights Watch afirmou também que muitas vítimas de estupro no México têm negado o direito de acesso ao aborto legal.

Esta não foi a primeira vez que a assembléia da Cidade do México, controlada pela esquerda, provocou polêmica. Recentemente, os parlamentares aprovaram a união civil de casais do mesmo sexo. Outro projeto em discussão prevê a legalização da eutanásia.
_________________________________________________________________

A questão do aborto é complicadíssima. No Brasil, ele só é autorizado no caso de estupro ou quando a gravidez é de risco para a mãe.
A Igreja é contra e 90% dos Mexicanos são católicos - a propoósito, na última segunda-feira, 23, a segunda maior autoridade do Vaticano chamou o aborto e a eutanásia de "Terrorismos".
Foi um projeto muito ousado do governo esquerdista mexicano, que pode acarretar em críticas de toda sociedade.
Assim como a Eutanásia e a União Civil dos homossexuais, a questão do aborto deve ser discutida.
A grande questão é que mulheres emocionalmente inseguras procuram clínicas clandestinas para realizar a "cirurgia". Muitas mães pensam, será que é melhor realmente colocar uma criança no mundo em condições completamente precárias e sem o mínimo de recursos, ou será melhor optar por livrar e "salvar" o filho da miséria?
Cada mulher sabe quando é o momento de ter seu filho. Pensemos na camada mais baixa da nossa população: as mulheres não tem 23 reais para gastar com pílulas anti-concepcionais, pois este dinheiro é gasto no almoço de cada dia.
Os argumentos de ambos os lados são lógicos e racionais. O única certeza é que com a atitude tomada pelo México, a discussão volta à tona.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Cidade ou consciência: o que você prefere limpa?


A foto é bem auto-explicativa, não é mesmo?
Mas em todo caso, vamos discutir um pouco sobre o que ela reflete.
A primeira questão colocada [Vamos discutir o número de outdoors em São Paulo?] é decorrente de uma promessa feita pelo atual prefeito da cidade de São Paulo, Gilberto Kassab, que pretende acabar com a poluição visual, propondo a Lei da Cidade Limpa, a qual proíbe a publicidade exterior nas ruas – os outdoors e painéis. Aprovada desde o final do ano passado, levou tempo para ser colocada em prática por conta de inúmeras liminares e até um decreto da própria prefeitura - que prorrogou o prazo para mudança das fachadas de estabelecimentos comerciais. Entretanto, a lei vigora e, cada vez mais, a cidade passa por modificações para finalmente alcançar o objetivo inicial do Prefeito: a limpeza da cidade. Além do mais, os estabelecimentos que não se adequarem à lei estão sujeitos a multas no valor de 10 mil reais.
Os protestos a fim de revogar a lei foram inúmeros. Desde manifestações até placas (nos locais em que liminares garantiam a colocação das mesmas) com mensagens irônicas enfatizando a importância dos outdoors como meio de comunicação; de fato, os protestantes também procuravam exprimir a indignação perante a falta de consideração com os trabalhadores – foi previsto pelo Sepex (Sindicato das Empresas de Publicidade Exterior de São Paulo) que cerca de 20 mil pessoas ficarão desempregadas por conta dessa lei.

Ok. As preocupações com a limpeza da cidade e com a redução da poluição visual são absolutamente válidas, mas será que já não temos alguns problemas um pouco mais complexos na sociedade para solucionar?
A foto representa exatamente isso.
É um paradoxo priorizar o visual da cidade enquanto há moradores de rua, gente passando fome, sem emprego.
Então será que aprovação de uma lei que irá aumentar o nível de desemprego é uma atitude plausível vinda do Prefeito da cidade, a julgar que ele deveria buscar a melhoria da qualidade de vida da população como um todo?

Seria essa uma inversão na escala de valores, aonde talvez o “capricho” de uma determinada classe social é priorizado acima de uma realidade que mostra uma necessidade diferente?

Então eu reafirmo a pergunta feita: Vamos discutir o que é prioridade tirar das ruas? Vamos?

terça-feira, 17 de abril de 2007

PARA QUE FILOSOFIA?

Para que filosofia?

Ora, muitos fazem outra pergunta: “Afinal, para que Filosofia?”.
É uma pergunta interessante. Não vemos nem ouvimos ninguém perguntando, por exemplo, “Para que matemática ou física?”, “Para que geografia e geologia?”, “Para que biologia ou psicologia?”, “Para que astronomia ou química?”, “Para que pintura, literatura, música ou dança?”. Mas todo mundo acha muito natural perguntar: “Para que Filosofia?”.
Em geral, essa pergunta costuma receber uma resposta irônica, conhecida dos estudantes de Filosofia: “A Filosofia é uma ciência com a qual e sem a qual o mundo permanece tal e qual”. Ou seja, a Filosofia não serve para nada. Por isso, costuma-se chamar de “filósofo” alguém sempre distraído, com a cabeça no mundo da lua, pensando e dizendo coisas que ninguém entende e que são completamente inúteis.
Essa pergunta, “Para que Filosofia?”, tem a sua razão de ser.
Em nossa cultura e em nossa sociedade, costumamos considerar que alguma coisa só tem o direito de existir se tiver alguma finalidade prática muito visível e de utilidade imediata, de modo que quando se pergunta “Para quê?”, o que se quer saber é: “Qual a utilidade?”, “Para que serve isso?”, “Que uso proveitoso ou vantajoso posso fazer disso?”.
Eis por que ninguém pergunta “Para que as ciências?”, pois todo mundo imaginava ver a utilidade das ciências nos produtos da técnica, isto é, na aplicação dos conhecimentos científicos para criar instrumentos de uso, desde o cronômetro, o telescópio e o microscópio até a luz elétrica, a geladeira, o automóvel, o avião, a máquina de lavar roupa ou louça, o telefone, o rádio, a televisão, o cinema, a máquina de raios X, o computador, os objetos de plástico, etc.
Todo mundo também imaginava ver a utilidade das artes, tanto por causa da compra e venda das obras de arte (tidas como mais importantes quanto mais altos forem seus preços no mercado), como porque nossa cultura vê os artistas como gênios que merecem ser valorizados para o elogio da humanidade (ao mesmo tempo que, paradoxalmente, nossa sociedade é capaz de rejeitá-los e maltratá-los se suas obras forem verdadeiramente revolucionárias e inovadoras, pois, nesses casos, não são “úteis” para o estabelecido).
Ninguém, todavia, consegue ver para que serviria a Filosofia, donde dizer-se: “Não serve para coisa alguma”.
Parece, porém, que o senso comum não enxerga algo que os cientistas sabem muito bem. As ciências pretendem ser conhecimentos verdadeiros, obtidos graças a procedimentos rigorosos de pensamento; pretendem agir sobre a realidade, por meio de instrumentos e objetos técnicos; pretendem fazer progressos nos conhecimentos, corrigindo-os e aumentando-os.
Ora, todas essas pretensões da ciência pressupõem que elas admitem a existência da verdade, a necessidade de procedimentos corretos para bem usar o pensamento, o estabelecimento da tecnologia como aplicação prática de teorias, e, sobretudo, que elas confiam na racionalidade dos conhecimentos, isto é, que são válidos não só porque explicam os fatos mas também porque podem ser corrigidos e aperfeiçoados.
Assim, o trabalho das ciências pressupõe, como condição, o trabalho da Filosofia, mesmo que o cientista não seja filósofo. No entanto, como apenas os cientistas e filósofos sabem disso, a maioria das pessoas continua afirmando que a Filosofia não serve para nada.
Para das alguma utilidade à Filosofia, muitos consideram que é preciso determinar claramente o uso que se pode fazer dela. Dizem então que, de fato, a Filosofia não serve para nada, se “servir” for entendido como a possibilidade de se fazer usos técnicos dos produtos filosóficos ou dar-lhes utilidade econômica, obtendo lucros com eles; consideram também que a parte principal ou mais importante da Filosofia nada tem a ver com as ciências e as técnicas.
Para quem pensa dessa forma, o interesse da Filosofia não estaria nos conhecimentos (que ficam por conta da ciência) nem nas aplicações práticas de teorias (que ficam por conta da tecnologia), mas nos ensinamentos morais ou éticos. A Filosofia seria a arte do bem-viver ou da vida correta e virtuosa. Estudando as paixões e os vícios humanos, a liberdade e a vontade, analisando a capacidade de nossa razão para impor limites aos nossos desejos e paixões, ensinando-nos a viver de modo honesto e justo na companhia dos outros seres humanos, a Filosofia teria como finalidade ensinar-nos a virtude, que é o princípio do bem-viver.
Essa definição de Filosofia, porém, não nos ajuda muito. De fato, mesmo para ser uma arte moral ou ética, ou uma arte do bem-viver, a Filosofia continua fazendo suas perguntas desconcertantes e embaraçosas: “O que é o homem?”, “O que é a vontade?”, “O que é a paixão?”, “O que é a razão?”, “O que é o vício?”, “O que é a virtude?”, “O que é a liberdade?”, “Como nos tornamos livres, racionais e virtuosos?”, “Por que a liberdade e a virtude são valores para os seres humanos?”, “O que é um valor?”, “Por que avaliamos os sentimentos e ações humanas?”.
Assim, mesmo se disséssemos que o objeto da Filosofia não é o conhecimento da realidade, nem o conhecimento da nossa capacidade para conhecer, mesmo se disséssemos da Filosofia é apenas a vida moral ou ética, ainda assim o estilo filosófico e a atitude filosófica permaneceriam os mesmos, pois as perguntas filosóficas – o quê, por que e como – permanecem.

*texto tirado do livro "Convite à Filosofia", de Marilena Chaui


segunda-feira, 16 de abril de 2007

A consolidação da opinião de Lula

Em nosso primeiro mini-seminário do ano, expusemos a áurea essência dos valores democráticos. Analisamo-la e visualizamos que, mesmo presente nas constituições liberais, ela é pouco praticada por leis que, em divergências aos seus princípios, limitam o seu alto grau libertário e fraternal.

Um exemplo, evocado durante a apresentação do seminário, foi a chamada "Lei da greve", presente na constituição de 1988. Segundo ela, todo cidadão civil, funcionário privado ou público, tem por direito intrínseco a greve na reivindicação de princípios trabalhistas assegurados à sua categoria. No entanto, o país não apresenta uma legislação adequada ao servidor público, o qual fica a deriva de reações despóticas por parte de seus governantes.

Propusemos, com o objetivo de findar esse problema, que fossem aderidos os princípios da legislação francesa, a qual promove o direito a todos os servidores públicos caso haja o aviso de paralisações cinco dias antes delas ocorrerem. Assim, o governo tem tempo suficiente para empregar trabalhadores provisórios no regular atendimento à população.

No entanto, o presidente Lula, ex-metalúrgico e um dos maiores ícones da luta pelos direitos dos operários, posicionou-se, em um de seus discursos, a favor de um modelo criticado veementemente por nosso grupo. Na última quinta-feira,para a nossa infelicidade, esse paradigma foi aprovado pelo STF( Supremo Tribunal Federal) como o alicerce formador da nova legislação trabalhista dos servidores públicos, que terá votação prevista na Câmara para o final do mês de maio.

Oriundo da legislação dos servidores privados, esse modelo prevê o direito à greve a no máximo 70% dos trabalhadores. Obviamente, 30% permaneceriam em seus cargos, privados de um direito constitucional que lhes é fundamental.Os mais atentos a essa questão devem estar questionando o lado humanitário do grupo. E os cidadãos que dependem desses serviços essenciais à estrutura social? Saúde, transporte, educação e outros serviços também não estão presentes na constituição federal como deveres a serem assegurados pelo Estado e ,assim, acessíveis a todos?

Se não pensássemos nessas pessoas, não estaríamos escrevendo esse texto. Esses serviços são indispensáveis, sim, para manter a vida em sociedade. Entretanto, sejamos realistas. Em um país em que, mesmo com 100% dos servidores em atividade, a eficácia dos atendimentos é extremamente precária, como eles seriam com somente 30% desses funcionários? A barbárie!

O STF, portanto, aprovou uma legislação que fere duplamente a constituição nacional. Ela não proporciona nem o direito pleno à greve e nem o regular funcionamento da sociedade. Restringe a manifestação e o bem estar social. Prejudica, portanto, a sociedade civil como um todo.

É uma lástima que um país tão frutífero economicamente coexista com um alarmante subdesenvolvimento social (por razões históricas e culturais). No entanto, não cometamos a mesma injustiça em idéias tão precárias. O que menos precisamos em um cenário de crescimento retardatário são decisões inconseqüentes que não ponderem o melhor à nação. Esperemos que nossos deputados federais tenham o mínimo de consciência em rejeitar esse paradigma pouco eficaz.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

O Segredo


Saindo do tema do nosso próximo seminário, a obra A Utopia – Tomás Morus, eu gostaria de falar um pouquinho sobre um filme chamado "O Segredo (The Secret)". Recentemente lançado aqui no Brasil segue o estilo de documentário do “Quem somos nós”, onde vários metafísicos, filósofos, médiuns, físicos quânticos, escritores e especialistas dão depoimentos sobre a lei da atração, que basicamente reflete sobre como o poder da mente pode mudar a nossa vida. Sabe aquela história do pensamento positivo!? É... Segundo eles, realmente funciona. E serve para todos os campos da vida, do afetivo ao financeiro. O filme lida muito com a questão da energia do Universo, uma energia oculta, mas que está presente o tempo todo; de maneira que o seu pensamento, o que você deseja e visualiza, reflete no mundo em que você vive. Histórias reais são contadas através de testemunhos e dramatizações, além de citações de pessoas famosas como Einstein, Beethoven, Da Vinci e outros, que segundo Rhonda Byrne, diretora e autora do livro homônimo, utilizaram a lei da "maneira correta" obtendo sucesso na vida.
A reflexão foi algo instantâneo após o filme. Eu saí do cinema com a sensação de que a vida talvez dependa mesmo do que você pensa, do quanto você é grato e das boas vibrações que emanam de você. Mas ainda acredito que certas coisas ocorrem inerente à nossa vontade.
O livro é um fenômeno de vendas, assim como o filme tem sido sucesso de público. Muitas pessoas estão aderindo à prática da lei da atração e afirmam que suas vidas de fato mudaram.

“Não existe uma única coisa sequer que você não possa fazer com esse conhecimento. Não importa quem você é ou onde está, O Segredo pode lhe dar o que você quiser.” - Rhonda Byrne.

Será mesmo?! Eu ainda tenho minhas dúvidas... e você?
[Recomendo o filme; assistam e tirem suas conclusões!]

sábado, 7 de abril de 2007

A Utopia

Temos o prazer de poder trabalhar com Morus nesse próximo seminário. Então, um pouco mais sobre a obra e o autor:

Tomás Morus (1478-1535), humanista e jurista inglês, foi chanceler do reino da Inglaterra e um dos pensadores mais destacados de seu tempo. Católico fervoroso, foi decapitado por ordens do Rei Henrique VIII por não reconhecer o rei (que havia se divorciado) como chefe supremo da Igreja. Foi canonizado pela Igreja católica em 1935. Morus teve a particularidade de ser cultuado também pela Revolução Russa, que lhe erigiu uma estátua em homenagem às idéias socialistas de sua célebre obra A Utopia.
A obra descreve um Estado imaginário sem propriedade privada nem dinheiro, preocupado com a felicidade coletiva e a organização da produção, mas de fundamento religioso. Seu modelo é "A República"" e "As Leis de Platão". Além de lançar as bases do socialismo econômico, Morus, que cunhou a palavra utopia (literalmente o não-lugar de nenhum lugar), deu início a um gênero literário que faria fortuna nos séculos seguintes, desde "A Nova Atlântida" de Francis Bacon e "A Cidade do Sol" de Companella até os escritos dos socialistas do século XIX, chamados utópicos.

sexta-feira, 6 de abril de 2007

Comecemos uma nova fase!

Cavocamos do âmago ao fétido os princípios que regem os sistemas políticos democráticos. Partimos de seu berço, a sociedade grega, e chegamos à sua maturidade exemplar, a constituição francesa. Questionamos as suas praticidades em transformar idéias em ações. A partir de agora, no entanto, direcionamo-nos a uma nova fase.

Não negligenciaremos, obviamente, questões democráticas levantadas desde o início desse blog. Como cidadãos, continuaremos lutando por direitos a nós intrínsecos constitucionalmente. Até porque o espírito de pátria também se revela através de pessoas regidas por uma mesma legislação. Assim, outros textos que nos esclareçam irregularidades e mecanismos constitucionais equivocados à essência da democracia serão publicados. Portanto, não nos transformaremos radicalmente como a personagem Gregor Samsa,de Kafka, em A metamorfose,que se consolidou em um besouro gigante; mas alongaremos um pouco mais nossas "patas" para cavocar outros assuntos.

A partir de agora iniciaremos o estudo de nosso seminário. Nossa obra, evidente ao ler o nome do blog, é A Utopia, de Tomás Morus.
Católico fervoroso e chanceler do reino da Inglaterra, o autor foi uma das figuras mais eminentes de seu tempo(1478-1535). Tomás, por sua orientação religiosa, foi decapitado em plena ascensão protestante por ordens do Rei Henrique VIII, representante religioso da nova igreja. Catequizado em 1935, pelo catolicismo, a figura do autor transformou-se em grande paradoxo. Como um santo poderia ser um dos representates mais aclamados do comunismo, já que a doutrina marxista defende fielmente um Estado ateu? Essa e outras questões serão dialogadas semanalmente em um cenário filosófico e contemporâneo, onde o leigo sobre o conteúdo da obra possa exprimir suas opiniões e pontos de vista.

Comecemos, então, uma nova fase, em que, democraticamente, contaremos com a ajuda de integrantes do grupo e interessados. Desmembremos a obra de Morus em busca do belo e do vil. Só assim, entenderemos a utopia de um homem que, como nós, sonhou um mundo melhor.



quinta-feira, 5 de abril de 2007

Música como forma de protesto.

Alguns compositores se manifestam contra a atual "democracia" através da música. Eis alguns trechos que ilustram esse fato:

O sistema nos oprime
O sistema nos massacra
Diante do sistema
Nos não valemos nada

[...]

Pra que democracia
Se não temos liberdade
Democracia só tem nome
Não existe de verdade.

Composição: Ledis, Godzila

____

Eu sou obrigado
A votar em pessoas
Em que eu não confio
E sou governado por quem
Eu não escolhi e nada faz pra mudar

Isso acontece todos os dias
Chamam isso de democracia

Te obrigam a votar
É um crime contestar
O povo sempre se prejudicando
Não parece que vai mudar
Eu não voto em ninguém
Não sustento parasitas

Não apoio esse governo
Que chamam de democracia.

Composição: D.F.C.

quarta-feira, 4 de abril de 2007

Contemporaniedade e cinema

Clouzot: o orixá da globalização

Imigrantes paupérrimos, xenofobia, exploração petrolífera por transnacionais norte-americanas e línguas diversas convivendo em um mesmo território. Apesar desses temas serem tão recorrentes no mundo globalizado atual, o eminente cineasta francês Henry Georges Clouzot já os utilizada em 1953. Em sua notável obra, O Salário do Medo, o famoso diretor, reconhecido por causar terror em seu público, abandona a sua fórmula tradicional para dar a vida a um filme visionário de conteúdo sócio-político.


Ambientado em um país sul-americano, a obra revela o esforço diário de imigrantes europeus que buscam oportunidades de emprego em um ambiente de miséria e decadência moral. A falta de recursos os faz aceitar as mais inóspitas atividades em busca de baixos salários. Um desses casos é o do italiano Luigi(Folco Lulli) que, por conseqüência de desumanas condições trabalhistas, apresenta graves doenças pulmonares que o tornam um cadáver iminente.


Apesar do cenário marcado pelo subdesenvolvimento, coexiste no lugar a SOC -companhia petrolífera norte-americana que explora os recursos petrolíferos nacionais. Idealizada como oportunidade trabalhista pelos cidadãos locais, a transnacional yankee explora seus proletariados com sacrificantes jornadas de trabalho e com ausentes direitos trabalhistas.
Em um de seus incidentes explosivos em uma das plataformas no interior do país, a SOC contrata quatro imigrantes locais, por uma quantia de 2000 dólares cada, para levar dois caminhões de nitroglicerina, substância de alta capacidade explosiva, para findar o fogo no local do acidente.


Inicia-se, assim, a aventura angustiante da personagem principal Mario (Yves Montand) - um boêmio francês que sonha em retornar à sua pátria - e de três outros colegas no transporte de uma carga que, se não bem transportada, pode lançá-los aos ares. Passando por trilhas esburacadas e por percalços diversos, os aventureiros vivenciam momentos de fraternidade, condicionados pela relação de medo, e por episódios vis, em que a ambição pelo dinheiro fere o respeito à vida.

Hábil na criação de personagens metafóricos, Clouzot explora a sua prática em Mr Jô (Charles Vanel) e em Linda (Vera Clouzot - esposa do diretor). Mafioso francês que busca um capital para retornar à sua pátria, Jô retrata a soberba estrangeira em relação aos povos das nações subdesenvolvidas. A personagem simboliza a relação vaidosa entre os europeus e americanos, em que o eurocentrismo beira um certo racismo por parte do mafioso.Já Linda, faxineira apaixonada por Mário, é a personificação da exploração yankee sobre as nações sul-americanas. Renegada pelo francês o qual nutre um amor subserviente, a mulher representa a pátria subdesenvolvida que, mesmo explorada, subjuga-se à exploração das companhias estrangeiras.

Mesmo distinto dos trabalhos antes realizados, O Salário do Medo mantém o caráter incômodo e surpreendente do cinema de Clouzot. Os fãs podem se deleitar com um fino humor negro, como em As diabólicas, e com um final surpreendente, como em O corvo. Com cenários angustiantes, nos quais homens e urubus convivem em ambientes de miséria plena, e com a interpretação memorável de Charles Vanel, o filme foi o único da história a passar por Berlim e Cannes e angariar tanto o Urso quanto a Palma de Ouro. Imperdível, portanto, aos fãs da obra de Clouzot e aos amantes de um cinema que transcende o engajado - conferindo poesia aos mais mórbidos suplícios causados pelo algoz globalização.