terça-feira, 17 de abril de 2007

PARA QUE FILOSOFIA?

Para que filosofia?

Ora, muitos fazem outra pergunta: “Afinal, para que Filosofia?”.
É uma pergunta interessante. Não vemos nem ouvimos ninguém perguntando, por exemplo, “Para que matemática ou física?”, “Para que geografia e geologia?”, “Para que biologia ou psicologia?”, “Para que astronomia ou química?”, “Para que pintura, literatura, música ou dança?”. Mas todo mundo acha muito natural perguntar: “Para que Filosofia?”.
Em geral, essa pergunta costuma receber uma resposta irônica, conhecida dos estudantes de Filosofia: “A Filosofia é uma ciência com a qual e sem a qual o mundo permanece tal e qual”. Ou seja, a Filosofia não serve para nada. Por isso, costuma-se chamar de “filósofo” alguém sempre distraído, com a cabeça no mundo da lua, pensando e dizendo coisas que ninguém entende e que são completamente inúteis.
Essa pergunta, “Para que Filosofia?”, tem a sua razão de ser.
Em nossa cultura e em nossa sociedade, costumamos considerar que alguma coisa só tem o direito de existir se tiver alguma finalidade prática muito visível e de utilidade imediata, de modo que quando se pergunta “Para quê?”, o que se quer saber é: “Qual a utilidade?”, “Para que serve isso?”, “Que uso proveitoso ou vantajoso posso fazer disso?”.
Eis por que ninguém pergunta “Para que as ciências?”, pois todo mundo imaginava ver a utilidade das ciências nos produtos da técnica, isto é, na aplicação dos conhecimentos científicos para criar instrumentos de uso, desde o cronômetro, o telescópio e o microscópio até a luz elétrica, a geladeira, o automóvel, o avião, a máquina de lavar roupa ou louça, o telefone, o rádio, a televisão, o cinema, a máquina de raios X, o computador, os objetos de plástico, etc.
Todo mundo também imaginava ver a utilidade das artes, tanto por causa da compra e venda das obras de arte (tidas como mais importantes quanto mais altos forem seus preços no mercado), como porque nossa cultura vê os artistas como gênios que merecem ser valorizados para o elogio da humanidade (ao mesmo tempo que, paradoxalmente, nossa sociedade é capaz de rejeitá-los e maltratá-los se suas obras forem verdadeiramente revolucionárias e inovadoras, pois, nesses casos, não são “úteis” para o estabelecido).
Ninguém, todavia, consegue ver para que serviria a Filosofia, donde dizer-se: “Não serve para coisa alguma”.
Parece, porém, que o senso comum não enxerga algo que os cientistas sabem muito bem. As ciências pretendem ser conhecimentos verdadeiros, obtidos graças a procedimentos rigorosos de pensamento; pretendem agir sobre a realidade, por meio de instrumentos e objetos técnicos; pretendem fazer progressos nos conhecimentos, corrigindo-os e aumentando-os.
Ora, todas essas pretensões da ciência pressupõem que elas admitem a existência da verdade, a necessidade de procedimentos corretos para bem usar o pensamento, o estabelecimento da tecnologia como aplicação prática de teorias, e, sobretudo, que elas confiam na racionalidade dos conhecimentos, isto é, que são válidos não só porque explicam os fatos mas também porque podem ser corrigidos e aperfeiçoados.
Assim, o trabalho das ciências pressupõe, como condição, o trabalho da Filosofia, mesmo que o cientista não seja filósofo. No entanto, como apenas os cientistas e filósofos sabem disso, a maioria das pessoas continua afirmando que a Filosofia não serve para nada.
Para das alguma utilidade à Filosofia, muitos consideram que é preciso determinar claramente o uso que se pode fazer dela. Dizem então que, de fato, a Filosofia não serve para nada, se “servir” for entendido como a possibilidade de se fazer usos técnicos dos produtos filosóficos ou dar-lhes utilidade econômica, obtendo lucros com eles; consideram também que a parte principal ou mais importante da Filosofia nada tem a ver com as ciências e as técnicas.
Para quem pensa dessa forma, o interesse da Filosofia não estaria nos conhecimentos (que ficam por conta da ciência) nem nas aplicações práticas de teorias (que ficam por conta da tecnologia), mas nos ensinamentos morais ou éticos. A Filosofia seria a arte do bem-viver ou da vida correta e virtuosa. Estudando as paixões e os vícios humanos, a liberdade e a vontade, analisando a capacidade de nossa razão para impor limites aos nossos desejos e paixões, ensinando-nos a viver de modo honesto e justo na companhia dos outros seres humanos, a Filosofia teria como finalidade ensinar-nos a virtude, que é o princípio do bem-viver.
Essa definição de Filosofia, porém, não nos ajuda muito. De fato, mesmo para ser uma arte moral ou ética, ou uma arte do bem-viver, a Filosofia continua fazendo suas perguntas desconcertantes e embaraçosas: “O que é o homem?”, “O que é a vontade?”, “O que é a paixão?”, “O que é a razão?”, “O que é o vício?”, “O que é a virtude?”, “O que é a liberdade?”, “Como nos tornamos livres, racionais e virtuosos?”, “Por que a liberdade e a virtude são valores para os seres humanos?”, “O que é um valor?”, “Por que avaliamos os sentimentos e ações humanas?”.
Assim, mesmo se disséssemos que o objeto da Filosofia não é o conhecimento da realidade, nem o conhecimento da nossa capacidade para conhecer, mesmo se disséssemos da Filosofia é apenas a vida moral ou ética, ainda assim o estilo filosófico e a atitude filosófica permaneceriam os mesmos, pois as perguntas filosóficas – o quê, por que e como – permanecem.

*texto tirado do livro "Convite à Filosofia", de Marilena Chaui


6 comentários:

Rafael Mury disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rafael Mury disse...

hahahahahaha, é verdade! Olha, eu sempre achei filosofia meio inútil, com todo o respeito, mas agora parece q eu estou vendo uma utilidade prática para a profissão! Estou vendo que é importante, assim como a Thaty colocou, a gente TEM que começar a pensar, se não, não saimos do lugar! Assim como quando começou com as ciências!
Isso aé, beijos e abraços

Anônimo disse...

Invadi o blog de vocês a convite da Flávia!
Adorei o post e confesso que essa é realmente uma pergunta que eu me faço constantemente! haha... mas o seu ponto de vista me fez perceber o quanto é errado julgar apenas pelo conhecimento comum... me senti meio contaminada por uma ídéia bastante pobre! O que um bom aprofundamento não faz, né?

Beijoos!
vou passar mais vezes aqui!

Anônimo disse...

Muitos não entendem o significado de filosofia. Filosofia para mim é a indagação do mundo, é o conhecimento profundo sobre tudo, é o porquê de tudo ser como é.
A filosofia vem da necessidade do homem no seu dia-a-dia. A filosofia é o conhecimento da realidade, é a nossa capacidade de conhecer, de impor, de aceitar as coisas como são ou não.
Quando digo que filosofia vem da necessidade do homem no seu dia-a-dia, quero dizer que o homem se pergunta a todo o momento o porquê de tudo; o porquê que a economia caiu, o porquê da inflação, o porquê da vizinha ter morrido de vicio de cigarro, o porquê de o sol nascer quadrado para os presos, ou seja, a filosofia tenta explicar, ajudar o homem a raciocinar, indagar tudo a sua volta, com uma visão ampla, consciente e ao mesmo tempo critica, pois temos que comprovar, embasar o que falamos, pensamos, em coisas certas, fundamentadas em argumentos seguros.
Assim como existe a matemática para calcular, a história para relatar acontecimentos... assim existe a filosofia, para ajudar o homem enxergar aquilo não vê.
Existem vários filósofos, que defendem varias teorias, discutem vários temas, que nos ajudam a defender o que pensamos ser o certo.

- raay disse...

assim, quando começei o ensino médio que me falaram que teriamos sociologia e filosofia; pensei logo em coisas loucas e sem sentido.
mais na verdade é isso mesmo!
A Filosofia não tem resposta,
ela tee leva um monte de perguntas e noo fim só de faz pensar mais ainda, pois resposta mesmo , concreta, como a matematica ou ciencia pode nos dá, ela nao da !
E o legal da filosofia é isso !
:D

Mario disse...

Eu sempre achei que filosofia
É coisa de louco!!!