domingo, 27 de maio de 2007

Estudo avalia que Brasil perde R$ 1,5 bi por ano com corrupção

Para especialista, impacto é sobre investimentos, gastos do governo, inflação, educação e credibilidade do País

Por Patrícia Campos Mello

Além dos milhões de reais desviados dos cofres públicos e consumidos em propinas todos os anos, a corrupção custa ao Brasil cerca de R$ 1,5 bilhão por ano em perdas indiretas. Esse é o total de recursos que deixam de ser gerados por causa dos efeitos da corrupção sobre os investimentos, os gastos do governo, a inflação, a educação e a credibilidade do País, segundo cálculos do especialista Axel Dreher, professor do centro de pesquisas de conjuntura do Instituto Econômico Suíço. Com esse dinheiro, o governo federal poderia tapar os buracos de 4 mil quilômetros de estradas.

De acordo com os cálculos de Dreher, o Brasil perde por ano, em média, 0,08% do PIB por causa de custos indiretos da corrupção (em valores de 2006, US$ 715 milhões). Em PIB per capita, o País deixa de ganhar US$ 270 todos os anos. “A corrupção leva à queda do investimento estrangeiro direto, as elites cleptocratas ganham renda à custa de uma possível redução da pobreza, e enquanto os efeitos no volume de investimentos do governo não são claros, há uma evidente perda de qualidade nesses investimentos”, diz Dreher, que é autor de vários estudos em que calcula o impacto da corrupção sobre expectativa de vida, escolaridade, investimento, gastos do governo e inflação.

Em relação ao investimento estrangeiro direto, por exemplo, a corrupção funciona como um imposto de entrada. Estudos mostram que elevação de 1 ponto em índices de corrupção corresponde a um aumento de 7,5 pontos porcentuais em impostos.

No setor público, os recursos são desperdiçados porque a corrupção leva a projetos desnecessários ou inadequados e os preços cobrados em licitações direcionadas são inflacionados. Além disso, estudos mostram que há significativo aumento de gastos militares e em obras, e queda de investimentos do governo em saúde e educação. A corrupção também leva à redução da arrecadação de impostos.

Segundo Daniel Kaufman, diretor do Instituto Banco Mundial e um estudioso do assunto, não há sinais de que a corrupção tenha diminuído no Brasil nos últimos 10 anos, embora haja melhoras pontuais, como em telefonia e energia. “Há muitos países com índices de corrupção piores do que o Brasil”, diz Kaufman. “Mas dado o status de potência do Brasil na região e no mundo, os brasileiros deveriam se esforçar para entrar também na liga dos países poderosos que têm boa governança e combatem a corrupção.”

CLASSIFICAÇÃO
Combater a impunidade é essencial para que a percepção de corrupção caia nos países e prejudique menos a economia, diz Christopher McKee, editor-chefe do PRS Group. Ele elabora a International Country Risk Guide, que classifica os vários riscos para investidores e empresas nos diversos países, entre eles a corrupção. “Sempre analisamos medidas concretas que estão sendo tomadas para combater a corrupção, a quantidade de funcionários públicos processados, empresários punidos”, explica. No quesito corrupção, o Brasil obteve a nota 2 em dezembro do ano passado - numa escala de 0 a 6, em que 6 é a melhor. Só para comparar, Noruega tem nota 5 e o Zimbábue, 0. Com dois pontos, o Brasil empata com a Somália.

VARIÁVEIS
Para seu estudo, Dreher considera índices de corrupção entre 1984 e 2006 e calcula as perdas todo ano em que o País supera a média mundial de corrupção. Em alguns anos, o Brasil foi bem e ficou com um índice bem acima da média. Em outros, não. Dreher faz a ressalva de que os números podem variar, porque podem ser usados diferentes índices para medir a corrupção, em períodos diferentes, considerando outras variáveis.

Claudio Weber Abramo, diretor-executivo da ONG Transparência Brasil, aponta para as dificuldades de medir custos da corrupção. “Apenas parte da corrupção é detectada, como nos casos dos sanguessugas, navalhas e companhia. Se nem mesmo nesses casos é possível estimar com alguma precisão qual foi o desperdício envolvido, imagine nos casos que passam despercebidos”, argumenta Abramo. “Há ainda uma questão importante que é a direção da causalidade: o argumento de Dreher pretende exibir causalidade entre corrupção e crescimento econômico, mas a causalidade pode perfeitamente ser inversa, a saber, baixo crescimento econômico implica maior corrupção.”

Domingo, 27 de maio de 2007 - O Estado de S. Paulo

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