segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Tropa de Elite e a revolução do funk proibido


“Um vai de Uru na frente, escoltando o camburão /Tem mais 2 na retaguarda, mas tão de crock na mão/Amigos que eu não esqueço, nem deixo pra depois/ Lá vem dois irmãozinhos de 762 /Dando tiro pro alto só pra fazer teste/Pa-ra-pa-pa-pa-pa-pa (tiros de metralhadora)”.
Trecho de Rap das armas

Em seu terceiro final de semana de exibição, o filme Tropa de Elite cativa o público e se consolida como a produção nacional mais bem sucedida do ano. Por volta de 700 mil espectadores o assistiram em 10 dias de exibição e, segundo cálculos do produtor do filme Marcos Prado, 2,5 milhões de brasileiros o prestigiarão durante a sua veiculação nos cinemas nacionais. Como afirmou o jornal espanhol El País no último dia 19, Tropa de Elite se tornou um “fenômeno social”.

Compreender a popularidade bombástica do filme foi o que tentou a mídia nacional durante o mês de outubro. Programas de entrevistas com o diretor José Padilha e bate-bocas de sociólogos com membros da polícia carioca foram de praxe, polemizando ainda mais os problemas levantados pelo filme. Dedos indicadores apontaram para todas as direções, tentando encontrar culpados ou inocentes no fogo cruzado da violência que acomete o país. Embora o assunto tenha sido debatido em demasia nas telinhas, o filme, ao invés de fatigar a população brasileira, instigou-a ainda mais.

Nunca o site de vídeos Youtube recebeu tanto material brasileiro sobre um mesmo tema. Jovens fardados como capitães do Bope, proferindo frases do filme como “Seu 02, o senhor é um fanfarrão” ou “Pede para sair! Pede para sair!” protagonizam uma lista de mais de 700 produções caseiras disponíveis no site. A música Rap das armas, que se legitimou como música-tema da obra, é uma das mais baixadas em programas de downloads. Devido ao sucesso, MCs Júnior e Leonardo foram recrutados por Padilha para gravá-la na trilha sonora do longa, que será lançada ainda esse ano.

Com insinuações aos conflitos entre policiais e traficantes nas favelas e com apologias ao crime organizado, Rap das armas faz parte de um subgênero cada vez mais em voga nos bailes funks cariocas: o proibidão. Com letras que vão desde a tentativa de valorizar o poderio das facções criminosas até a insistência em desmistificar os males causados pelo consumo de drogas, o tráfico tem nas batidas dessas canções um porta-voz de seus interesses e um cartão de visita à classe média, que as consome como mais uma música comercial, mais uma novidade das paradas de sucesso.

Desde a década de 80, o funk proibido é produzido por membros de facções criminosas nos morros e favelas do Rio de Janeiro. Só no final da década de 90, no entanto, o subgênero ganhou os asfaltos e as páginas dos jornais. O Rap do Comando Vermelho, que parodiava a música Carro Velho, da cantora Ivete Sangalo, causou grande polêmica social por seu conteúdo violento e por defender explicitamente o crime: “Cheiro de pneu queimado/ carburador furado/ e o X-9 foi torrado/ quero contenção do lado/ tem tira no miolo/ e o meu fuzil está destravado”.

Por estar configurado na lei criminal brasileira como apologia ao crime, punível com penas de prisão que podem ir dos três a seis meses, o funk proibido limitava-se a bailes nos morros e a cds – vendidos em camelôs e ouvidos por alguns jovens cariocas. No entanto, depois de Rap das Armas reger o enredo de uma das produções de maior sucesso cinematográfico nacional e ser convidada a fazer parte da trilha sonora de um CD que promete ser um dos mais vendidos no Natal desse ano, a história do funk proibido passa por uma revolução.

A música-tema de Tropa de Elite introduz ao mercado musical brasileiro o subgênero proibidão, permitindo que mais produções do tipo sejam lançadas e que o país inteiro dance ao som de batidas que simulam balas de metralhadoras. As façanhas e os ideais dos traficantes que expressam o ódio e o terror entre gangues não se restringirão aos territórios tomados por elas, mas agora também embalarão festas de casamento e bailes de debutantes, legitimando o narcotráfico e o crime organizado – propósito das canções. O consumo de entorpecentes e o porte de armas fomentados por músicas que fazem analogia às drogas e ao status que uma 762 pode trazer a um jovem se popularizarão em programas de auditório e de rádios FM.


Por mais que ela contribua com a atmosfera da primeira cena do filme - um baile funk no morro da Babilônia -, Rap das armas é uma música proibida por lei e até o momento a justiça não se manifestou sobre o assunto. Por se tratar de um sucesso nacional, é possível que a canção não seja vetada, contribuindo para que o funk proibido ganhe a legalidade e se expanda pelo país.

Se o subgênero, em sua estréia em circuito nacional, já banalizou a violência e valorizou o porte de armas, quem sabe o que vem por aí nas batidas violentas dos proibidões!?

7 comentários:

Bruna Bernacchio disse...

é, gu... vc é bom.

Anônimo disse...

Olha cara, realmente não estou por dentro sobre a história da produção do filme. Mas te garanto que já conhecia essa música desde o início do ano de 2002!

Você está dizendo que a música foi feita a pedido do diretor Padilha? Isso é conversa mole hein, tá furado esse teu texto porque ela foi feita muito antes.

Gustavo Uribe disse...

Caro anônimo,

Utilizei uma declaração dada pelo autor da música, Mc Leonardo, ao jornal O Estado de S. Paulo. Ou você confundiu a canção com outra já lançada ou o autor dela mentiu ao jornal.

Unknown disse...

esse rap é cantado por um menor detento, no documentario "notícias de uma guerra particular" de 1997 provavelmente o autor já nem existe mais, já deve ter sido assassinado... quem quiser confirmar é só comprar o dvd disponível no submarino.

quanto a ser proibido, sou contra a censura, seja ela de qq espécie!

Malandro do velho oeste disse...

Pelo visto nenhum de vcs moram no Rio de Janeiro o rap das armas é do mc cidinho e doca, todo mundo no Rio sabe disso. Agora aparece um paulista dizendo q a usica é dele só podia ser coisa de paulista mesmo de novo querendo roubar a cultura de outros estados esse rap tem mais de 10 anos, e ñ foi feito para o filme tropa de elite.

Gustavo Uribe disse...

Então, Joliviere, os Mc's que se disseram "donos da canção" mentiram ao jornal. Peço desculpas por ter perpetuado o erro.

Felipe Rocha disse...

Musica do Junior e Leonardo, Cidinho e Doca apenas lançaram a versão proibida a original, liberada pra tocar na radio e tal, é da dupla Junior e Leonardo. Obs.: musica do tempo da minha avo virgem